domingo, 29 de setembro de 2024

 

Além-túmulo

(é um futuro)

 

“Xi-ni-Mâvu”…  Estou a lembrar-me do que o meu amigo Calequisse me disse em determinada altura, sobre entidades espirituais e sobrenaturais que existem nas profundezas da terra (“Xi-ni-Mâvu”) Segundo a sua crença, é nesses “abismos” que existem as mansões de tais seres que estão vivos depois da sua morte. Tinha escolhido um local sagrado para as suas práticas de ocultismo. Este, tinha dado conta, também servia para outras pessoas usarem em acção de graças quando um facto relevante ocorria nas suas vidas. Pedir justiça, colocam essas criaturas a palma da mão no chão. Para bens corporais, neste lugar sagrado, vertem vinho sobre o corpo nu de quem está a ser alvo de beneficio, ou pedido. No caso de bens espirituais, o que passam no corpo é um liquido misturado com incenso e é feita, também uma reza.

Os Umbandistas, (religião originária do Brasil com raiz em Angola, terra do meu Calequisse, mistura partes cristãs, rituais de África e espiritismo Kardecista, ou seja, reencarnacionista) têm na cura que Jesus fez a um cego, o ter misturado saliva com barro, passou nos olhos de um cego e curou-o, dado lugar a uma profunda meditação.

O meu amigo nunca foi um maníaco destas “manifestações” espiritas, mas que sei eu, era dado a algumas meditações. Falava em Nzâmbi, (Deus, criador de todas as criaturas, do mal e do bem) e dizia-me que não era o Ente supremo pois necessitava, para dirigir o mundo, de entidades que ele denominava de “Entidades espirituais”. Daqui o culto a diversos espíritos que regem várias partes da nossa vida.

Ora, já no nosso metropolitano rincão, consegui tirar-lhe essas crenças, da prática e da cabeça. Sempre pensei, pelas conversas intermináveis que tivemos, ter erradicado esses pensamentos, até porque nunca mais, santa alma, falou nestes “mistérios”. Como me dizia mais lá para trás, se estivesse em Luanda, iria à igreja da Nossa Senhora da Conceição (Muxima) e ofertar-lhe-ia um coração em cera.

Hoje ouvia sua voz através de um telefonema. Fiquei radiante. O meu amigo estava presente. A sua voz não era a mais “alegre”, mas enfim… o que interessava é que estava “ali”! Falou-me sobre o orçamento de estado, da “tourada” que está montada com os diálogos entre oposição e governo, governo, imprensa escrita, falada, visionada e oposições. Refere que a situação é sempre má para o povo, nunca “esta gente” se lembra do povo.

No fim diz-me: Xi-ni-Mâvu… é no que dão estas politicas…

 

Victor Martins

Sem comentários:

Enviar um comentário

  CASTIGO NO PS?     Se se fizer uma análise alargada sobre o que se entende ser o nosso povo do Alentejo, assim como das Beiras, por ...