FUI ÀS COMPRAS
Para
estacionar, foi um caso sério, tantas pessoas nos locais de veraneio, mais
propriamente, no meu caso, na costa vicentina. O supermercado onde fui, e
normalmente vou, é enorme. O estacionamento automóvel está dividido por dois
pisos, sendo o superior no nível da área comercial. Foi aí que consegui
estacionar, mesmo com o sol a dardejar sobre a humilde chapa do meu meio de
transporte, ainda por cima é de cor preta.
Bom…
no meio de tantas pessoas… aí estava eu de cesto com rodas pela mão… rumo às
prateleiras munido do respectivo memorando caseiro, o tal auxiliar de memória, onde
se anotam (escreve, és um esquecido…)
os “artigos” necessários para casa. É que
somos 14 pessoas, divididos por dois “AL”. Responsabilidade quase exclusiva dos
“Entardecidos”… Ah, entardecidos somos, eu e a mulher. Não é meu hábito referir-me
sobre os dois, como “cotas”, gíria africana, prefiro: “entardecido”. Muito mais “chic”… ah, e humorístico.
Na
azáfama das compras, descobri um funcionário, com alguns “preçários luminosos”,
na mão. Retirava um ou outro fixados nas prateleiras, junto aos produtos.
Tirava e colocava, tirava e voltava a colocar novos. Pêlo que eu via e
percebia, alguns preços de produtos estavam a ser mudados. Se calhar já não se
viam bem e alguém reclamou… Mas, pensei, ligando os meus habituais
“desconfiómetros”: “Isto só se faz depois
da hora do fecho. Será que estavam produtos novos a serem descarregados, de
camiões, nesta hora e tinha que ser tudo mudado? Se der sorte, tudo estava a
ficar mais barato? Se assim era, abençoada gerência. A verdade é que só
tive uma conversa de um casal como “base” da minha habitual desconfiança. Dizia
o marido, penso que era:
- Manuela, juro-te que isto estava
com um preço diferente. Eu tirei da prateleira e estava marcado por 4€99 e não
5€25. – Resposta da Manuela:
- É sempre o mesmo, nunca estás
atento aos preços… como é que podia ser se eu li, agora mesmo, contigo ao lado,
5€25? Mas não faz mal, viste mal, paciência, anda que não temos tempo…
Fui
ter com a minha mulher e contei-lhe o caso. Olhou para mim e disse:
- Se calhar recolocaram algum preço
que não estava no local certo. Alguém reclamou…
- Não foi, eu vi o funcionário com
montes de “tíquetes luminosos” com preços…
- Deixa isso, olha, todos lá em casa,
estão à nossa espera… temos que nos despachar.
Pensei
para “com os meus botões” (botões, até que não, nesta época nem um tenho): “É a vida…”
Pêlo
caminho, depois de “levar” com uns cestos e uns carrinhos nas pernas, claro,
tudo com pedidos de desculpas, acumulámos os géneros alimentares no cesto.
Afinal estava a mostrar-se pequeno. Quase sempre escolho um só cesto… para ver
se levo menos coisas, mas o que me adianta se a lista não é a minha? Nem a minha
idade me serve de lição. A mulher diz que sou teimoso, penso que não, sou
simplesmente um ser de “convicções”. E agora a propósito, se ela lesse esta
conversa/desabafo… tinha, eu, um diálogo de “pé d’orelha”. Tudo a ver com a
minha desconfiada teimosia…
Repare-se,
é possível estas “coisas” acontecerem? Mudar preços para valores superiores sem
justificação é aumentar a inflação? Estou a referir-me a uma presumível troca
de tíquetes… com preçários novos… que sei eu… Devo ter visto e pensado
incorrectamente.
Penso
que nada do que especulo seja verdade… tanta gente, mas tanta gente no
supermercado como cliente que não torna possível mudarem-se preços à noite…
horas extraordinárias a pagar aos funcionários, mais despesa…não deve ser isso…
vi mal, eu e o outro cidadão “casado” com a Manuela. E já agora, esta é para ti
ó “Zecas” (nome do marido da Manuela, baptizado por mim): “Estamos a ir muito bem, não há dúvida, quem nos dá crédito, meu?”
“Estacionei” numa caixa onde me pareceu estarem
menos compras, a julgar pêlos conteúdos dos cestos que se apresentavam nas
filas (antigamente eram bichas). Leitura rápida que todos fazem. Como a “coisa”
estava demorada, um cidadão muito prestimoso veio informarmo-nos que nas caixas
automáticas era mais rápido. A minha pedagogia de sempre, a actuar. Seja, meter
o nariz onde não sou chamado:
- Veja se não colabora tão
afincadamente, quantas mais caixas automáticas, mais colaboradores são
dispensados… defenda-se. – Resposta:
- Estou só a cumprir as ordens que me
deram…
Toma!
A
minha mulher fez questão de ir para lá porque estávamos atrasados, conceito sem
o meu contraditório. Lá seguimos. Mais rápido, pese embora dois percalços
porque dois produtos não queriam passar “confiança” ao leitor de barras e teve
que vir o funcionário prestável. Tudo pago, toca a sair, factura simples na
mão, passar pêlo leitor de barras para abrir a “cancela” e… nada, não abria,
não lia e não abria mesmo. Chamou-se o “prestável” que passou três vezes o nosso
tíquete, de várias formas, da esquerda para a direita do leitor, da direita
para a esquerda, de baixo para cima, de cima para baixo… nada, o leitor do
código de barras entrou de embirração, ou meteu férias. Ah, já tínhamos “fila”
atrás de nós. Foram experimentados outros talões e… nada… nós, dentro das
“muralhas”, sem sair. Lá se escoava o tempo que queriamos que fosse curto no
âmbito das compras e pagamento. Até que o que “cumpria ordens”, convidou todos os
clientes das caixas automáticas, que já tinham pago, a saírem pêlo lado das
caixas, normais, e que deviam ser continuadas e nuncas substituídas pêlo
anti-social sistema.
Já
com as compras arrumadas na mala do “boguinhas”, entramos e… Não é justo, tchi…
li no sector de informação de bordo: 42,5 graus. Uma violência. A vida de quem
cuida dos seus… em férias, é assim.
Agora chega o regresso, rumo a Arrifana, depois de toda a
Odisseia. Curva para a esquerda, curva para a direita, conversa com a mulher a
meu lado, como sempre fazemos. Vejo um descapotável a vir do outro lado da
estrada, carrinho, aí dos anos sessenta. Três meninos de “Kappe’s”, a
conduzi-lo, vinham atrás de uma carrinha de distribuição que seguia, claro, em
sentido contrário ao meu. Pensei: “Assim que passarem por mim vou ver a marca e
a boa reconstrução do “bólide”, de certeza que está bem feita, a observar pêlo
vermelho brilhante do “brinquedo”. Eu, a pensar nisto e o bólide a querer
“enfrentar-me”, bem na minha frente, saído de um “salto” da traseira da
carrinha. Aquele brilhante condutor, deve ter pensado e apostado, que cabíamos
os três, carrinha, ele e eu, lado a lado. Esta estrada é um tipo de estrada
florestal mais ou menos bem conservada. Guinei para a berma, travei a fundo e
entrei ligeiramente numa pequena vala de, presumo, escoante de águas pluviais.
Atrás de mim, uma travagem bem sonora. Acto contínuo pensei: “Vou ficar sem
traseira, no mínimo”. Não aconteceu.
Não
é que o rapaz do volante, com képi, teve razão? Passámos mesmo ao lado uns dos
outros, a roçar os espelhos retrovisores.
Pensei umas “palavras novas”. O condutor da
carrinha verificou se o “cláxon” dele funcionava, se funcionava bem e até que funcionou
a sério durante algum tempo. Eu ouvi. Mas… não consegui, sequer, ver a marca do
carro, muito menos apitar. Se ele pensou que tive medo, está muito enganado!...
Nem tive tempo para o ter!
Saí
para perguntar ao cidadão que teve a destreza e a amabilidade de não me meter a
traseira do carro “dentro”, se estava tudo bem com ele. O coitado tinha o carro
mais dentro da pequena vala, do que tinha o meu. Respondeu-me: “Viu este filho…” Respondi-lhe que estamos sujeitos a este tipo de
pilotagem nesta época. Continuou a olhar para o carro dele e com um abanar de
ombros diz-me que saía de lá perfeitamente.
Que
chatice estas coisas no verão, não conseguir ver a marca de um carro… mas que
coisa!
A parceira de uma vida, “pedagoga de condução”, minha e
dos outros, não disse nada durante 2 quilómetros. Devia estar entretida a
observar a “gutação” nas estêvas que ladeiam o trajecto. O aspecto brilhante
das folhas é interessante. A água em excesso é libertada pela planta, através
de estruturas especiais, nas pontas das folhas, Foram baptizadas de hidatódios.
O aspecto brilhante das folhas, tem a ver com açucares libertados que, com as
minúsculas gotas, misturam-se e tornam a superfície das folhas pegajosas. O que
eu sei… Deve ter sido nesta observação, que a dona Dé conseguiu um silêncio,
mais ou menos, durante os dois quilómetros seguintes.
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