sexta-feira, 27 de agosto de 2021

 

ENTARDECIDOS



Não poderia deixar de iniciar este “sítio”, sem falar de nós, os “entardecidos”. Começo então pelo meu conceito do que somos como povo. mas esse meu conceito passa também pelo que é a liberdade do governo sobre o povo, não do governo do povo, isso, seria um ideal de sociedade e de futuro… enfim, adiante.

O ser povo não é um conceito concreto, também não é uma teoria que se socorra de várias épocas para criar um estereotipo, não é. O ser de um povo, o sentir, efetivamente foi sempre circunscrito às vivências nas várias épocas, logo não podemos nunca definir um padrão. O ser, de um povo, é sempre construído pelos vários elementos seus constituintes, seja, na sua maneira de interpretar, de falar, de estar, construir, criar, com todas as orientações políticas e sociais no seu tempo, regras sociais, impostas, ou de herança, que se tenham. Mas, tal como um instrumento que se distingue de outro, não pelas notas que toca, mas pelo timbre, existe defacto uma “coluna central” que dita, quanto a mim, a característica de um povo ao longo da sua existência. A minha breve ideia:

- Somos um povo de ideias contraditórias, porque cada um tem sempre uma forma diferente de abordar um assunto, mesmo que o seu conhecimento seja somente superficial. Temos a cisma que somos capazes de desempenhar magníficos papeis no mundo, mas isso só será possível se o país nos for, alguma vez, restituído integralmente... Mantivemos uma ideia de missão, até à trinta e seis anos atrás... deu no que deu... É que nunca o país nos foi integralmente entregue, ou nosso... Somos um povo que não foi “criado” para executar tarefas mas, se formos bem dirigidos, fazemos tudo... a nossa forma de ser está mais virada para fruir o abstrato e no querer imediatamente transformá-lo em algo concreto. Não sei se perdendo tempo nisso, ou ganhando tempo para fruir os sonhos.

O nosso ser passa por uma liberdade que, neste momento está a ser podada aos poucos. A humilhação que nos espera, enquanto povo... já começou faz tempo no número de desempregados e nos que, apesar de possuírem emprego não conseguem honrar os seus compromissos. Esta perda de liberdade, rápida ao som do metrónomo da finança, limita-nos e acaba também por cair sobre muitos outros povos, não estamos sós... Mais valia uma catástrofe planetária que a que está a ser provocada pelos usurpadores da vida das nações. Com o consentimento dos governos que se governam e não são povo! Ainda assim, temos a possibilidade de reverter isto! As tecnologias dão-nos tempo para pensar e mudar esta forma de nos explorarem. Assim os governantes sejam povo.

Necessitamos devolver aos cursos das economias, finanças, gestão, as cadeiras humanistas, a filosofia, a historia, a psicologia, a sociologia... com isto nos currículos tudo seria diferente. É que, os governos que infelizmente deviam ser para o povo, que existem, isolados do interesse do povo, porque não são um governo do povo e são sustentados pela nossa incapacidade de nos governarmos, poderiam ter tendência a desaparecer. Mas os cursos só possuem números e cifrões.

Mas, dada a incompatibilidade de interesses, é natural que as necessidades imediatas destas micro minorias governativas, colidam, nas suas determinações governativas, com o progresso do povo, com o seu bem estar, ou seja, com a diminuição, que se quer sucessiva, das dificuldades da vida que se nos apresentam.

O nosso futuro imediato? Não precisamos de o querer moldar, até porque, já sabemos o que vai acontecer, porquanto já é presente. Com provas dadas, nenhum governo conseguiu entender o passado do povo e com essas “mestrias”, não vão nunca conseguir dar-nos um futuro que interesse.

O futuro mais longínquo, esse só pode começar a ser traçado quando um governo deliberar processos que projetem o presente. Tem que se governar olhando sempre para cima. Nenhum governo pode traçar um futuro a um povo, sem ser negativo, se delibera constantemente de “cabeça baixa!” Quando se deve muito dinheiro, é isso que acontece.

Nós, os entardecidos na vida, conhecemos bem este “navegar à vista”, sempre com objetivos escusos e curtos porque pessoais são. São muitos anos a recitar a mesma “ladainha”


Mas, por sermos entardecidos em tempo de novidade da nossa vida, tivemos para com ela uma situação que é bem normal, seja, ter paixões, seja, tornarmo-nos passivos e só muito, mas muito mais tarde, ativos. Essa passividade, demos conta disso, foi quando estávamos apaixonados e tantas paixões foram, tantas... Só muito mais tarde passámos a amar, ou seja, a sermos ativos.

O amor é uma passagem na vida em que se é verdadeiramente ativo! Ser apaixonado é dar a hipótese a que alguém nos deslumbre, nos guie, nos molde. Mas amar é criar todos os dias, é construir uma vontade, um deslumbre para os dois.

Todas as faces do amor são a nossa construção de vida. É pelo simples que se ama. É pela naturalidade que se mantém, é pela criatividade que cresce e pelo “silêncio” que se eterniza, não pela divulgação de que se ama. O ideal será ter aliada um pouco, um nadinha de paixão, pois assim é conseguir beber constantemente o mel do paraíso por sermos nós a produzi-lo.

Isto é lembrar e querer ser “entardecido” por termos passado e permanecermos em estados deslumbrantes na vida. A paixão leva-nos, por ser passiva a nossa forma de estar, a uma cegueira da alma. Essa visão só se recupera quando se ama. É no amor que se vê tudo e todos e se consegue por isso fazer um “cultivo” cuidado, longe do vulgar. Aqui, quando se ama, a sua casa é longa e térrea, sempre acrescentada com novas divisões, cada vez mais alegres, mais simples, mais harmoniosas.

Na paixão a sua morada é um castelo com uma torre muito alta e única, para lá das nuvens, de onde nada se vê, só o outro. E isso dura pouco tempo, por ser cansativo e de visão redutora.

É no amor, que nos damos com todas as nossas angustias, idiossincrasias, todos os problemas, toda a nossa seriedade, tudo o que é nosso, sem reservas. É claro que esperamos, nunca tendo, certeza de que a outra parte nos ame, mas se ela for assim para nós e é assim o amor, não precisa de amar como nós o fazemos, é sempre difícil, senão impossível isso acontecer, mas com uma entrega dentro da mesma regra, o amor eterniza-se.

Diariamente é uma luta pelo bem, pela alegria de se conseguir sempre a diferença. É o aroma matinal que se alonga até ao outro dia para receber outra forma de criar, de acontecer.

O amor é difícil, mas é quem nos faz ver o mundo, tudo, que nos faz respirar, crescer, rir chorar com a mesma comoção que o fizemos quando éramos crianças sem maldade alguma. Só se cresce quando se ama e se é criança a acompanhar esse crescimento. Esse é que é o verdadeiro agente do amor e que o frui e o cria eternamente. Somos, por cultivarmos tudo isto, uns amantes “entardecidos”. Que o sejamos eternamente.

Vamos continuar esta “missão”. Escrever a nossa opinião ao longo destas páginas. Assim o tenhamos a si como leitor felizmente entardecido.


Viriato Mondeguino

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

ENTARDECIDO

 

O azul é marchetado de laivos brancos.

O ar transporta odores suaves,

o sorriso alarga-se nas crianças.

As aves capricham suas danças.

Os homens agora são mais francos,

o sol já não tem negros entraves.

Se é isto que já me está cá dentro,

que soem as trombetas da vida

p’ra lembrar que outra era,

a que chega e que convida

a fazer-se outra vez em nós a primavera!!!


V.M.

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