quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

 Em 2011 publiquei esta carta para o meu amigo Cid Adão:


CARTAS AO MEU AMIGO CID ADÃO



OS  VÁRIOS "ACIDENTES" NA VIDA.


    Por vezes os textos de alguns requerimentos, de declarações, comunicações, ocorrências, indicações de placas de aviso... etc., dão um excelente impulso ao nosso sorrir, no meio desta nossa agrura de vida.

    Reli, meu caro Cid Adão, um requerimento que "caiu" na sua secretária ao meu amigo e que começava:

    Esselentissimo senhor Juiz:”

    Ao ter mostrado, o requerimento aos seus colegas, responderam-lhe que era um erro ortográfico, ao que o meu amigo lhes disse que não o seria, se visto por outro prisma, em virtude do caso a que referia o requerimento, se andar a arrastar... fazia dois anos, ao que me lembro. Perante este pressuposto, o único erro do requerente foi o de juntar as duas palavras. A forma como escreveu, entretanto, como bem disse, não fazia a anulação do pretendido. Estaria corretíssimo, quando afirmava de uma forma, digamos que um pouco “bizarra”,  o  pressuposto de se dirigir a: “Esse lentíssimo senhor Juiz.”

    Torna-se claro que o meu amigo, apesar do “peso” da sua profissão e, quanto ao humor, este, nunca o deixou sisudo. Também o caso da ocorrência elaborada por um elemento da força policial que entretanto lhe passou pelas “mãos” para julgar. O do individuo que morreu após o embate da motorizada que conduzia, num muro de uma propriedade. Era assim o texto do agente:

“Cumpre relatar que o que aconteceu foi grave. O senhor, quando se deslocava na sua motorizada despistou-se, não se sabendo porque aconteceu, mas acabou por bater com a cabeça num muro, propriedade da senhora doutora farmacêutica. Apesar de trazer um capacete, concerteza dos baratos, partiu-se todo com o embate e acabou por falecer. Podia ter sido muito pior se a motorizada tivesse entrado numa grande vala logo a seguir, com pelo menos cinco metros perto do local do embate”.

    Pequenas coisas que fazem as nossas delicias e não são objeto de chacota sobre quem as viveu, isto por nada mais conhecerem que as corrija... seria na escola, nos primeiros anos...

    Por último, este caso que ao fim e ao cabo já é do conhecimento de muita gente, é muito interessante como texto que pretende ser esclarecedor de um acidente a transmitir à companhia de seguros do cidadão acidentado. Claro que não me parece ser totalmente verdadeiro. Baseia-se num caso real e que honra quem teve a capacidade de o humorizar. Aqui vai este último que não conhece ainda para si, meu caro Cid Adão e, sorria:

“Exmos. Senhores,

    Em resposta ao vosso pedido de informações adicionais, esclareço o que me parece serem as vossas dúvidas:

    No quesito nº 3 da comunicação do sinistro disse: “tentando fazer o trabalho sozinho” como causa do meu acidente.

    Na vossa carta, os senhores pedem uma explicação mais pormenorizada, pelo que espero sejam suficientes estes detalhes:

    Sou assentador de tijolos faz 20 anos e, no dia do acidente, estava a trabalhar sozinho num telhado de um prédio de 6 (seis) andares.

    Ao terminar o trabalho, dei conta que tinham sobrado aí uns 120 quilos de tijolos.

    Em vez de os levar à mão para baixo (o que demoraria muito), decidi colocá-los dentro de um barril vazio, que era da cal, e, com ajuda de uma roldana, a qual felizmente estava fixada num dos lados do edifício (mais precisamente no sexto andar), pensei em descê-lo até ao chão.

    Desci até lá, amarrei o barril com uma corda e subi para o sexto andar, de onde puxei o dito cujo para cima. Coloquei dentro os tijolos. Voltei até ao chão da futura entrada do prédio e desatei a corda segurando-a com força para que os tijolos (120kg) descessem devagar (de notar que no quesito 11 informei que o meu peso é de 80kg).

    O que aconteceu deixou-se surpreendido, senti-me rapidamente levantado do chão e, perdendo o que muito tenho, a presença de espírito, esqueci-me de largar a corda talvez com medo.

    Claro que é desnecessário dizer que fui içado do chão a grande velocidade. Nas proximidades do terceiro andar dei de cara com o barril que vinha a descer.

    Ficam assim explicadas as fraturas do crânio e das clavículas.

    Continuei a subir, agora a uma velocidade menor. Só parei quando os meus dedos ficaram entalados na roldana. Felizmente, nesse momento já recuperara a minha presença de espírito e consegui soltar os dedos apesar das fortes dores e agarrar a corda. Neste preciso momento, o barril com os tijolos caiu ao chão e rebentou o fundo.

    Sem os tijolos, o barril deve ter uns 25kg. Eu peso 80. Como podem imaginar, comecei a cair rapidamente agarrado à corda, até que, próximo do terceiro andar, quem encontrei? Ora pois, o barril que vinha a subir. Ficam explicadas as fraturas dos tornozelos e os cortes nas pernas. Felizmente, com a redução da velocidade da minha descida, consegui sofrer um pouco menos até que caí em cima dos tijolos que estavam no chão... aqui, felizmente, só comprimi duas vértebras.

        No entanto, lamento informar que ainda houve um agravamento do sinistro, pois quando me encontrava caído sobre os tijolos, incapacitado de me levantar, e vendo o barril acima de mim, perdi novamente a presença de espírito e larguei a corda. O barril, que pesava mais do que a corda, desceu e caiu em cima de mim, fraturando-me as pernas.

    Espero ter-vos esclarecido agora. Devo acrescentar que este relatório foi escrito pela minha enfermeira, pois os meus dedos, ainda possuem a forma da roldana.

Atenciosamente


Um texto magnifico meu caro Cid Adão. Do seu amigo.

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